quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Entre o que todos mostram e o que tentam esconder: a verdadeira cara dos candidatos à Prefeitura de São Paulo

Faltam 30 dias para as eleições. Você deve estar acompanhando os primeiros dias da propaganda oficial no rádio e na TV, com os blocos de 10 minutos que apresentam os programas dos candidatos e uma enxurrada de inserções publicitárias no meio da programação normal das emissoras.

Mas o que os candidatos não dizem nem mostram nessas propagandas é tão ou mais importante do que tudo aquilo que falam, exibem e prometem. Sem filtro, sem edição, sem marketing, sem roteiro e sem discurso decorado é que nós conhecemos de verdade quem são os candidatos à Prefeitura.

Postamos aqui outro dia que Celso Russomanno, eterno candidato e líder nas pesquisas de intenção de voto para a Prefeitura de São Paulo, já foi liberal, tucano, malufista, apoiador petista, defensor do impeachment e virou agora bolsonarista, por oportunismo e conveniência.

Ele, que posa há décadas como xerife do consumidor, é a própria fraude. Deveria ser punido por propaganda enganosa. A mais recente é atribuir particularmente ao presidente Bolsonaro a ajuda emergencial recebida pela população durante a epidemia, afirmação que ele sabe ser inverídica. (Chama o Procon!)

Mas não é só isso. O marqueteiro de Russomanno é Elsinho Mouco, o mesmo de Michel Temer e homem de confiança do ex-presidente. É o grande estrategista para evitar a terceira queda consecutiva desse cavalo paraguaio. Vai usar e abusar do tom emocional e apelativo na propaganda, além de tentar blindar Russomanno da imprensa, evitando sabatinas e debates para esconder a inconsistência do candidato.

O que mais une Temer, Russomanno, Bolsonaro e o Centrão, afinal? Ora, é a mal disfarçada aliança que representa a mais velha política. Caquética. Deplorável. A bancada da Bíblia, a bancada da bala e a bancada do boi, aliadas aos inimigos da Lava Jato, tem a missão de eleger Crivella no Rio, Russomanno em São Paulo e depois partir para a reeleição de Bolsonaro. Perguntem a Roberto Jefferson, Silas Malafaia e Edir Macedo. (Deus nos livre!)

Por outro lado, o prefeito Bruno Covas, candidato à reeleição, também tem seus esqueletos no armário. Quando surgiram as denúncias de corrupção contra Aécio Neves, que era presidente e presidenciável do PSDB, Covas exigiu a expulsão do mineiro e garantiu que os dois não cabiam mais no mesmo partido. Tudo da boca pra fora. Seguem ambos tucanos, sem pudor.

Outro assunto tratado como tabu foi a escolha do vice de Covas. Ninguém assumia publicamente, mas houve uma correria insana pela vaga, estimulada pelo tratamento de um câncer agressivo (que Covas fez bem em não esconder). Ou seja, o pano de fundo da escolha foi o jogo de interesses com a possibilidade real de um futuro afastamento do prefeito - além do acerto político para beneficiar João Doria.

Foram cogitados diversos nomes de vice entre os partidos aliados: Datena (MDB), Marta (Solidariedade), Alê Youssef (Cidadania), Joice Hasselmann (PSL) e o próprio Russomanno (Republicanos). Falou-se em chapa pura tucana com a senadora Mara Gabrilli ou o vereador Eduardo Tuma. Até que se chegou ao vereador Ricardo Nunes (MDB), o menos conhecido de todos.

Mas ninguém explicita os motivos reais da escolha de Nunes, bancado pelo acordão pró-2022. Além do fato de contrapor e expor mais uma fragilidade de Russomanno, beneficia o MDB e a votação do vereador Milton Leite na zona sul - e agradar ao dono do DEM paulistano, aliado preferencial e chefão do Legislativo, certamente é prioridade de Doria e Covas.

O fato do vereador Ricardo Nunes ter presidido a CPI da Sonegação Fiscal na Câmara Municipal e confrontado grandes banqueiros, enquanto na sua “defesa do consumidor” o candidato do Republicanos humilha pessoas humildes, balconistas e pequenos comerciantes, também pesou na escolha. Será mais uma arma para o ataque.

Porém, ninguém comenta nem parece se incomodar que na base de apoio de Covas e Doria também estejam partidos recheados de políticos fisiológicos (ora aliados, ora disputando espaço), suspeitos e inimigos da Lava Jato, por exemplo, esta que foi uma bandeira tão explorada eleitoralmente pelo PSDB. (Mais propaganda enganosa?)

O MDB do vice de Covas é o partido de Temer, Renan Calheiros e dos presidiários Eduardo Cunha e Sergio Cabral, entre outros réus. Os próprios caciques tucanos estão todos denunciados na Lava Jato. Mas parece haver uma ética seletiva que neste caso não incomoda tanto o candidato, o partido e seus aliados. Vai entender...

O prefeiturável do PSB não fica muito atrás. Marcio França se apresenta como alternativa, ao mesmo tempo, a quem não quer votar no PSDB, nem no PT, nem no candidato de Bolsonaro. Assim, não seria nem a terceira, mas uma quarta via eleitoral. Repete a tática de 2018 - que lhe fez campeão de votos na Capital. Só esqueceu de dizer que já esteve ao lado de todos esses adversários de hoje enquanto isso lhe parecia conveniente.

Ex-vice e secretário de Alckmin, assumiu o Governo do Estado mantendo a mesma base do tucano. Antes, quando foi deputado pelo PSB, o Partido Socialista Brasileiro, também esteve na base de Lula e integrou até o conselho político do governo petista. Lançado candidato em 2020, flertou com Bolsonaro, cinicamente. É o candidato três em um (esquerda, centro e direita). Contra ou a favor quando lhe convém. Você confia?

A rejeição ao petismo levou a uma disputa inédita na esquerda: Guilherme Boulos (PSOL), Jilmar Tatto (PT), Orlando Silva (PCdoB), os nanicos do PCO e do PSTU, e em certa medida Marina Helou (Rede) e o próprio Marcio França (PSB/PDT) disputam o espólio de Lula, mas apenas Tatto parece ter coragem (e a necessidade desesperada de buscar votos) para reivindicar abertamente essa herança.

Além dos erros e malfeitos dos governos petistas, que todos à esquerda tentam esquecer, cada um tem seus próprios pecados a esconder e um karma a enfrentar. As invasões de Boulos no MTST, o modus operandi da Tattolândia e o cartel do transporte que seguiu impune nas gestões do PT, os escândalos de Orlando Silva no Ministério do Esporte etc.

À direita, Joice Hasselmann (PSL), Arthur do Val (Patriota), Andrea Matarazzo (PSD) e Filipe Sabará (Novo) também não escapam de histórias mal contadas, das relações partidárias conflituosas e dsuspeitas de ilegalidades (seja na cumplicidade com Bolsonaro e a familícia, ou com Kassab, ou com o MBL, ou na campanha suspensa pela investigação sigilosa contra Sabará).

A política hoje em dia é acompanhada quase como um reality show, principalmente nas redes sociais. Porém, ainda é muito mais show que realidade. Isso precisa mudar. E as fake news, as notícias plantadas, os fatos manipulados e outros truques do marketing político ainda prevalecem na embromação do eleitorado. Cuidado! Abra seus olhos! 👀