quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Fé demais com dinheiro público: a receita das campanhas milionárias para a Câmara Municipal de São Paulo


Há duas maneiras de identificar em quem os partidos apostam e seus caciques botam fé como puxadores de votos para vereador. Em primeiro lugar, com a presença constante no horário eleitoral de rádio e TV. Em seguida, com a distribuição de verbas dos fundos partidário e eleitoral.

Você sabe que, com o financiamento público, quem paga a campanha de todos os partidos e candidatos somos nós mesmos, eleitores, cidadãos e contribuintes. E quem decide tudo sobre a distribuição dessa nossa contribuição compulsória são eles. Bingo!

Tanto os recursos destinados pelos dois fundos bilionários aos partidos e candidatos, quanto a chamada propaganda eleitoral gratuita é financiada pelo suado dinheiro do povo brasileiro que paga seus impostos. É como fazer uma fezinha obrigatória numa espécie de loteria eleitoral.

Até o tal do horário gratuito não passa de balela: é grátis para os candidatos, que arcam apenas com os custos de produção (a compra de espaço publicitário é proibida), mas as emissoras são remuneradas e ressarcidas com verba pública e compensação fiscal pelo tempo ocupado pela propaganda eleitoral.

Para a Câmara Municipal, o campeão absoluto de recursos recebidos até o momento nestas eleições, de acordo com as primeiras prévias de gastos de campanha, é o vereador Milton Leite (DEM), que está no sexto mandato consecutivo, é o “dono” do partido em São Paulo e patrocina também seus dois filhos deputados.

Com R$ 2,3 milhões dos cofres públicos, a reeleição do vereador Milton Leite custa mais que a maioria absoluta das campanhas de prefeito pelos 5.570 municípios do Brasil. Mesmo em São Paulo, perde em estrutura para apenas quatro prefeituráveis (Bruno Covas, Jilmar Tatto, Guilherme Boulos e Marcio França).

Alegando erro do partido, o segundo maior beneficiado com dinheiro público para a campanha é Abou Anni Filho (PSL), com R$ 2 milhões. Filho do ex-vereador e atual deputado federal Abou Anni, ele providenciou a devolução de R$ 1,7 milhão após os dados da doação milionária serem disponibilizados pelo TSE.

O terceiro maior beneficiado, pelas informações oficiais da prestação de contas, é o novato Henrique Krigner (PP), com R$ 883 mil. Na TV o partido também privilegia o candidato de 29 anos que se diz administrador e tem um único bem declarado: um automóvel no valor de R$ 34 mil.

Pesquisando por Henrique Krigner na internet, ficamos sabendo que o candidato se envolveu numa recente polêmica com o site The Intercept Brasil, do jornalista Glenn Greenwald, ao defender de denúncias o evento político-religioso The Send, apontado como uma tentativa de “catequizar o Brasil” e ideologizar a juventude pela direita evangélica ultraconservadora norte-americana.

Krigner, em nome da organização do evento, veio a público apresentar a sua defesa: “The Send é um coletivo de ministérios evangélicos, não só norte-americanos, mas internacionais, que tem o objetivo de despertar uma geração. Os caras se uniram e falaram: Nós precisamos tirar o jovem cristão do banco da igreja e colocá-lo na sociedade para fazer a diferença”, afirma.

Sobre ser um movimento político radical, Krigner também responde: “O The Send não nasceu para influenciar só políticos. Nós queremos influenciar políticos, médicos, engenheiros, enfermeiros, pais de família, mães de família, professores… a gente quer influenciar a sociedade como um todo, porque isso é um mandamento: fazer discípulos de todas as nações.”

A mais recente edição do evento no Brasil, em fevereiro, contou com a participação do presidente Jair Bolsonaro e da ministra Damares Alves, que, apesar desse vínculo com o candidato do PP, declarou na TV apoio a outro vereador paulistano evangélico: Gilberto Nascimento Jr., do PSC.

Henrique Krigner se apresenta ainda como diretor do programa avançado de desenvolvimento de líderes do Dunamis Movement, movimento cristão do qual diz fazer parte desde 2008, ex-consultor do Banco Mundial e formado em Relações Internacionais pelas Faculdades Rio Branco.

Na sequência dos maiores beneficiários de recursos públicos para as campanhas, aparecem dois candidatos do Republicanos (partido de Celso Russomanno e braço da Igreja Universal): o vereador evangélico André Santos, que obteve R$ 580 mil do diretório estadual e mais R$ 15,7 mil do municipal, e o repórter Carlos Cavalcante, com R$ 505,8 mil.

Como diria aquele famoso candidato que já foi tucano, malufista, governista com Lula e Dilma, defensor do impeachment e agora volta apoiado por Bolsonaro: “Estando bom para ambas as partes...”

(Mas, espera... Está bom assim para você? Para mim, não! Essa festa estranha com gente esquisita paga com o nosso dinheiro? Só por Deus, mesmo! Socorro!)