sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Quem venceu o 1º debate: o sono, o Google ou a hipocrisia?


Já sabemos que a quantidade de candidatos, o formato engessado e o tempo limitadíssimo (afinal, é humanamente impossível expor alguma ideia consistente em 30 segundos) impedem algo além da reprodução de discursos ensaiados e da tentativa de gerar conteúdo para a internet.

Mas o nervosismo, o despreparo, o distanciamento da realidade, a demagogia e a hipocrisia da maioria dos prefeituráveis paulistanos foi muito além da conta. Deu sono. E deu pena de quem acompanhou o debate até o fim (tarefa que deve ter ficado restrita a quem possui algum interesse direto na eleição).

Estão marcados mais quatro debates para o 1º turno (RedeTV! no dia 23 de outubro, SBT 31, Record 8 de novembro e CNN dia 9). Até lá, o que vai dar o tom das campanhas será a propaganda de TV (que começa na próxima sexta, dia 9) e os candidatos poderão ajustar a mira, estudar um pouco mais e burilar seus personagens.

Em tempos de pandemia, lives e o Google usado como muleta para a falta de informação, parece ainda mais complicado tolerar esse tipo de evento. Mas, afinal, como se comportou cada prefeiturável no debate inaugural e que imagem foi passada para o eleitor? Vamos em ordem alfabética:

Andrea Matarazzo (PSD) - Tentou emparedar Bruno Covas com promessas não cumpridas pela “chapa Doria-Covas” e tomou uma invertida do prefeito, chamado de ressentido por ter sido derrotado nas prévias do PSDB e depois nas eleições de 2016, como vice de Marta. Defende-se com o discurso padrão de todo o amor que tem por São Paulo e o progresso trazido pela “família Matarazzo”. Mero figurante.

Arthur do Val (Patriota) - Um gerador automático de memes (favoráveis e contrários). Tenta se apresentar como o único não-político entre os políticos, apesar de ter mandato de deputado estadual. O nervosismo atrapalhou na missão de franco atirador, e perdeu para Celso Russomanno o papel de candidato-youtuber (surpreendentemente foi Russomanno quem mais pediu que o eleitor assista seus vídeos no Youtube, em vez do expert “Mamãe Falei”).

Bruno Covas (PSDB) - Sobreviveu aos ataques esperados de todos os oposicionistas. Foi sereno e coerente na defesa da gestão, embora exagere ao culpar o PT por todas as mazelas da Prefeitura. Executa a estratégia de se colocar como antipetista (mas não sem ressaltar que tem o apoio de Marta Suplicy), enquanto tenta não ficar muito colado em Doria nem se indispor com o eleitorado bolsonarista.

Celso Russomanno (Republicanos) - “Eu sou o único candidato aqui que tem amizade com o Presidente da República”. É a frase que sintetiza a estratégia do líder das pesquisas. Vai colar na imagem de Bolsonaro para herdar o voto bolsonarista, mas na hora que alguém o critica por isso alega que o foco deve ser a cidade e não se pode “antecipar 2022”. Foi o mais questionado por todos, mas é um cara-de-pau profissional. Óleo de peroba nele!

Filipe Sabará (Novo) - “Eu sou liberal” é a senha mágica. Parece ter todas as soluções do mundo pela experiência vivida como secretário municipal de Desenvolvimento e Assistência Social, e posteriormente presidente do Fundo Social do Estado. Pediu votos na chapa de candidatos do Novo, mas esqueceu que nem o próprio partido está fechado com ele na campanha. Figurante.

Guilherme Boulos (PSOL) - Bem articulado e bom de debate, provocou alguns dos melhores momentos. “Está pegando mal você ficar puxando o saco do Bolsonaro toda hora”, disparou contra Russomanno. Também lembrou que Russomanno fala grosso com gente humilde e afina com poderosos. E que faz qualquer coisa por audiência. No insucesso do PT, tenta se consolidar como o nome da esquerda para impedir um 2º turno entre Covas e Russomanno.

Jilmar Tatto (PT) - Sem nenhum carisma, procurou se apresentar como o grande criador do bilhete único, dos corredores de ônibus e das ciclovias. Mas, principalmente, como “o candidato do presidente Lula”. Busca ressuscitar a polarização entre petistas e tucanos, que parece ter ficado para trás. Vou cravar: está definitivamente fora do jogo. Alguém discorda?

Joice Hasselmann (PSL) - É a “Joice do 17”. A inusitada auto-apresentação revela a maneira como tentará manter o voto bolsonarista sem o apoio de Bolsonaro. E, pior, em guerra declarada com os filhos do presidente e sob ataque nas redes sociais. Diz ter solução para tudo na Prefeitura - e parece realmente acreditar nisso. Melhor não contrariar. Faz barulho, mas não vai chegar a lugar algum.

Márcio França (PSB) - Quer ser a alternativa equidistante aos bolsonaristas e tucanos. Ressalta a experiência de governador por nove meses e prefeito de São Vicente (entre 1997 e 2005) como se isso bastasse para resolver todos os problemas de São Paulo. Porém, parece ter esquecido que, como deputado federal, apoiou Lula; que foi vice de Alckmin; e que outro dia ainda estava flertando com Bolsonaro. Terá protagonismo na eleição graças ao tempo de TV.

Marina Helou (Rede) - Extremamente nervosa e insegura para o debate, repetiu frases ensaiadas da cartilha da sustentabilidade e se limitou a divulgar o partido e o endereço eletrônico do programa de governo.

Orlando Silva (PCdoB) - Teve seu melhor momento ao falar sobre racismo, numa bola levantada na medida por Bruno Covas. Polarizou no anti-comunismo de Joice e Arthur e se saiu bem para o seu público. Tira votos preciosos do PT.