quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Será que Russomanno é mesmo o candidato dos bolsonaristas à Prefeitura de São Paulo? A julgar pelo histórico de biruta de aeroporto e pela rejeição nas redes...



E o debate cancelado pela TV Record, hein? A emissora dos bispos alega preocupação com a saúde dos candidatos. Pode isso, Arnaldo? Querem enganar quem? Estão preocupados é com a fragilidade do prefeiturável que tem nas mãos, isso sim! E não querem dividir o palanque com os adversários.

É difícil crer que o eleitor paulistano de Jair Bolsonaro em 2018 vai votar automaticamente no candidato Celso Russomanno (Republicanos) para prefeito de São Paulo agora em 2020, como pretendem os marqueteiros, o presidente, os bispos e o deputado carreirista. Não cola!

A foto do abraço entre Bolsonaro e Russomanno (que só fica atrás da submissão explícita de Bolsonaro a Toffoli, o advogado petista do STF) é daquelas peças armadas que não convencem ninguém, transbordam incoerência e provocam indignação em quem acreditou sinceramente no presidente.

Essa aproximação de conveniência é o que existe de pior, mais antigo e repugnante na política. Não à toa, reúne o Centrão, a Igreja Universal e toda a corja de fisiológicos, corruptos, fundamentalistas e oportunistas que gravitam em torno do poder bolsonarista.

Até outro dia, Russomanno ainda negociava ser vice do prefeito Bruno Covas (PSDB) à reeleição. Os vereadores do partido dele, que modernizou o nome (de PRB para Republicanos) mas mantém as velhas práticas, passaram os quatro anos da gestão Doria/Covas na base governista.

Isso significa apoio em troca de cargos, emendas parlamentares, o controle de secretarias e subprefeituras. O próprio Russomanno controlava o Procon, para manter sua imagem de “xerife do consumidor” na TV, que lhe garante sucessivas reeleições como deputado (está no sexto mandato).

A Record também entrou de cabeça na eleição. Além de manipular toda a pré-campanha com overdose da presença de Russomanno em seus telejornais, anunciou ontem o cancelamento do debate agendado entre os candidatos à Prefeitura para evitar, preventivamente, que o atual líder nas pesquisas seja alvo dos adversários.

Apesar de toda essa forçada de barra para garantir a unção milagrosa de Bolsonaro, a rejeição nas redes bolsonaristas é grande - e há motivos de sobra para isso. Para quem esperava um candidato diferenciado, de fora do meio político tradicional, ficha limpa, genuinamente oriundo da direita e legitimamente conservador, fica difícil engolir Russomanno.

A origem na direita, por vias tortas, até se enxerga no currículo do deputado de 64 anos, jornalista, bacharel em direito e piloto de avião. Se bem que está mais para biruta de aeroporto. A primeira filiação partidária de Russomanno foi no Partido da Frente Liberal em 1985. Ou seja, apoiando o então presidente José Sarney (dissidente da direita que ao lado de Tancredo havia derrotado Maluf no colégio eleitoral).

Mas a estreia de Russomanno nas urnas foi em 1994, eleito pelo PSDB como o deputado federal de maior votação no Brasil. Foi também a primeira reviravolta política e ideológica, de muitas seguidas. Trocou o PFL pela social-democracia do governador Mário Covas e do presidente FHC.

Em 1997, outra reviravolta surpreendente: de tucano virou malufista. Migrou para o partido do ex-desafeto Paulo Maluf durante a gestão deplorável do prefeito Celso Pitta em São Paulo, reelegeu-se deputado em 1998 e, em 2000, foi candidato à Prefeitura de Santo André. Acabou derrotado pelo petista Celso Daniel.

Em 2010, depois de reeleito deputado em 2002 e em 2006, ele se lançou candidato do PP de Paulo Maluf ao Governo do Estado de São Paulo. Ficou em terceiro lugar, atrás de Mercadante (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB), que liquidou a eleição no 1º turno. Aí aprontou mais uma reviravolta: apoiou a candidatura da petista Dilma Rousseff à Presidência.

Em 2011 trocou o malufismo pelo PRB, o braço partidário da Igreja Universal. Ficou tudo em casa, já que trabalhava na Record e se juntou a quem faz qualquer coisa pelo poder (político e da fé). Católico, uniu-se aos evangélicos. Ex-antipetista, entrou para o partido do vice de Lula, José Alencar, e oficialmente para a base de sustentação do petismo.

Disputou pela primeira vez a Prefeitura de São Paulo em 2012. Era o favorito nas pesquisas, mas acabou fora do 2º turno (Haddad x Serra). Resultado: mais uma vez seu partido, o pragmático PRB, faria parte de um governo petista. “Hay gobierno, soy a favor” é o lema de Russomanno e dos fiéis de Edir Macedo.

Repetiu a dose em 2016. Largou como favorito na corrida pela Prefeitura de São Paulo, acabou em terceiro. Doria venceu no 1º turno, e o PRB trocou o PT pelo PSDB para se manter na base governista. Assim continuou por quatro anos, na Prefeitura, no Governo do Estado e na Presidência da República.

Até porque o adesista PRB, tendo Russomanno com cadeira cativa na Câmara dos Deputados e a vitrine privilegiada na Record, seguiu governista enquanto podia com Lula, Dilma e Temer, depois de ter pulado do barco petista para apoiar o impeachment na trairagem.

Com Dilma e Temer fora, o agora rebatizado Republicanos não demorou para se atirar com o Centrão no colo de Bolsonaro. Uniu o útil ao agradável. Protege o presidente, filiou dois de seus filhos (Carlos e Flávio), e seguem todos juntos com objetivos em comum: do fim da Lava Jato à reeleição de Crivella no Rio de Janeiro e Russomanno em São Paulo. Vale tudo pelo poder.

Voltaremos outras vezes para destrinchar a carreira política de Celso Russomanno. De liberal a tucano. De tucano a malufista. De malufista a apoiador do PT. Depois defensor do impeachment e agora bolsonarista. Você acredita em qual versão deste personagem canastrão? E com qual viés ideológico?