Bruno Covas foi eleito com 59% dos votos, mas vai ser o prefeito de 100% dos paulistanos. Isso quer dizer que vamos cobrar dele, diariamente, a realização de suas promessas de campanha, a permanência no cargo por quatro anos e uma gestão democrática, ética, responsável, moderna e transparente por uma cidade mais humana, inteligente, inclusiva, justa e sustentável.
Não espere vida fácil, prefeito. Estaremos fiscalizando cada ato, cada palavra, cada gasto, e seus decretos, e as nomeações, e os projetos encaminhado à Câmara Municipal. Ficaremos de olho na relação com os vereadores da base e da oposição. Denunciaremos ao menor sinal de fisiologismo, favorecimento ou promiscuidade em detrimento do bem comum.
São Paulo já é, desde o segundo turno destas eleições de 2020, o maior polo da resistência ao bolsonarismo em todo o Brasil. Que assim seja! Vamos manter a civilidade, o diálogo, o respeito à diversidade e às minorias. Vamos cobrar do prefeito que promova a unidade das forças democráticas, que ouça os cidadãos paulistanos e cuide da cidade e das pessoas com amor.
Temos muita coisa pela frente, uma agenda que terá de ser resolvida a curtíssimo prazo pela Prefeitura. Por exemplo, o enfrentamento da pandemia, que ameaça recrudescer e pode forçar medidas mais rigorosas de isolamento e quarentena. Além das consequências econômicas, sociais e dos efeitos danosos na saúde, no emprego e na educação.
A cidade já iniciará 2021 em crise. Temos a miséria e a desigualdade agravadas por um 2020 praticamente perdido (inclusive o ano letivo), sem falar na arrecadação em queda e nas despesas estourando o Orçamento. Medidas emergenciais como a suspensão do pagamento da dívida do município com a União e uma renda complementar aos mais pobres atenuaram o pior, mas o problema prossegue.
O comércio passa por dificuldades inimagináveis. O desemprego explodiu. O poder de compra das famílias paulistanas despencou. Nos cofres públicos entra menos dinheiro de ISS, IPTU, ITBI etc. Em compensação, escoam recursos crescentes para o subsídio do transporte ou gastos pontuais como os hospitais de campanha para enfrentamento do coronavírus.
Começo de ano, recomeçam as tragédias diárias de sempre: enchentes, deslizamentos em áreas de risco, famílias desabitadas, árvores caídas, córregos assoreados, bueiros entupidos, buracos de rua, congestionamentos, aglomerações, mortes. São pautas recorrentes do verão. Em seguida a procura por vagas em creches e escolas, a entrega de uniforme e material escolar, a qualidade da merenda.
Vem aí a revisão do Plano Diretor, incontáveis operações e projetos de intervenção urbana, a sequência do pacote de privatizações e concessões, a decisão sobre o destino do Minhocão (demolição, parque ou deixar tudo como está?). Quais os critérios para a composição do secretariado e das subprefeituras? Como aproximar a gestão dos cidadãos?
O que teremos de soluções para o trânsito e a mobilidade? Como se dará a zeladoria da cidade? Que realizações veremos nas áreas da segurança, habitação, infraestrutura, saneamento, assistência social, saúde, educação, cultura, tecnologia e inovação, criança e adolescente, idosos, portadores de necessidades especiais, trabalho, empreendedorismo, planejamento, meio ambiente?
Seguiremos empurrando com a barriga problemas crônicos como a cracolândia, as populações de rua, a ocupação ilegal dos mananciais, o desmatamento criminoso das áreas remanescentes da Mata Atlântica, o descaso com a poluição, o lixo e as mudanças climáticas, rios mortos, o crescimento desordenado e irregular da cidade, a distância entre o trabalho e a moradia do paulistano, que perde horas em deslocamentos intermináveis?
São Paulo tem 12 milhões de habitantes e pelo menos o dobro deste número de problemas. Cada paulistano é capaz de apontar uma ou duas carências que mereceriam a ação imediata do poder público. Daí a complexidade e o drama de ser prefeito desta cidade. Mas quem se candidatou que se vire para fazer o melhor, o possível e o impossível, não é mesmo? Ganhou, levou! Ao trabalho!