quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Os fantasmas e as histórias reais e surreais que assombram a Câmara Municipal de São Paulo


Nem só de política vive a Câmara Municipal de São Paulo. Já houve de tudo um pouco. Dentro e fora do plenário, desde 1969 o Palácio Anchieta foi palco de prisões, ameaças, invasões, tiro, xingamentos, assaltos, agressões, tomatadas, chuva de dinheiro, cenas de pugilato e telecatch.

Teve vereador preso na “máfia dos fiscais”, como Vicente Viscome; teve vereador cassado, como o próprio Viscome e a evangélica Maeli Vergniano. Teve assalto dentro e fora de gabinete. Teve muito indício e até flagrante de corrupção, crimes, rachadinhas, fugas e armações.

Teve vereador que escapou da cassação por dizer que contava seus amigos “nas mãos”, numa clara insinuação de que entregaria seus parceiros de contravenções se fosse punido. Acabou poupado. E teve o irmão deste mesmo vereador chantagista saindo da Câmara algemado e de camburão.

Teve briga de soco fake para interromper votação (com gravação apagada posteriormente da TV Câmara por ordens superiores), teve simulação de desmaio, teve vereador prendendo os colegas no elevador para impedir quórum de sessão. Teve gabinete destruído por parlamentar surtado.

Teve denúncia de carro-forte entregando dinheiro de propina para vereador quadrilheiro, teve parlamentar estapeado, teve outro vereador que levou soco de colega, teve assédio moral no elevador, teve manifestação de preconceito racial, sexista e religioso no plenário.

Teve invasão, quebra-quebra, pedrada e tiro que quase atingiu vereador. Teve servidor exonerado por assédio sexual. Teve vereadora flagrada por segurança namorando dentro do gabinete na madrugada. Teve vereador se escondendo de manifestante no banheiro, outro escapando pela saída de emergência. E discurso alcoolizado, então?

Teve chuva de dinheiro falso para protestar contra a base governista, teve ovo e tomate atirado no plenário, teve vereador ameaçando colega com espada de samurai, outra vereadora tirando revólver de dentro da bolsa de grife para dizer que daria um tiro na cara do rival do mesmo bairro.

Teve compra, venda e troca de votos. Teve ameaça de morte. Teve ocupação de estudantes e sem-teto. Teve casamento, divórcio, velório e traição. Escândalo de esposa e de amante. Culto afro e evangélico. Teve pizza no fim de votação que se estendeu pela madrugada e pizza no fim de muita CPI e de processo engavetado na corregedoria.

Enfim, para conhecer de verdade a Câmara Municipal não basta fazer uma visita rápida à chamada “Casa do Povo”, no viaduto Jacareí, centro de São Paulo, nem achar que acompanhando pela internet o que se passa nas sessões te fará entender tudo o que está acontecendo por ali.

É preciso ouvir suas histórias, conhecer seus fantasmas - não apenas os assessores nomeados que pouco aparecem para trabalhar, mas também os inominados que assombram seus corredores, como garantiu o folclórico ascensorista Aristides em dezenas de reportagens nas últimas décadas.

É para ajudar nesse registro das cenas da vida real da política que estamos aqui. Você que vai às urnas em 15 de novembro precisa saber o que os vereadores fazem de fato na Câmara. Conhecer seus bastidores, os personagens anônimos e os donos dos supersalários (procuradores, motoristas, garçons, engraxates). Suas histórias e estórias. E quem quiser que conte outra...