quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Você acha que a vida do prefeito vai ser fácil? Como escapar das armadilhas do Centrão e da velha política?


A partir do resultado da eleição deste domingo, eleito Bruno Covas ou Guilherme Boulos para a Prefeitura de São Paulo, teremos um mapa mais preciso da nova correlação de forças na Câmara Municipal.

O fato é que já sabemos que o velho e conhecido Centrão continuará dando as cartas, qualquer que seja o novo governo. Sozinhos, o PSDB com oito vereadores e o PSOL com seis não aprovam nenhum projeto.

Mesmo somando os mais prováveis e naturais aliados de uma eventual base de Covas ou de Boulos, a negociação com outras bancadas será essencial para garantir a tal governabilidade. Eis aí um problema concreto a ser enfrentado pelo prefeito.

A esquerda mais tradicional tem 14 vereadores (PT + PSOL). Seja na situação ou na oposição, será sempre minoritária, ainda que eventualmente possa ser reforçada por vereadores do PSB, do PV e por outros parlamentares independentes ou com interesses pontuais em alguma votação.

A base ampliada de Covas, reunindo todos os partidos que estiveram com ele desde o primeiro turno e agora no segundo, chega fácil à maioria simples (28 votos) mas terá muita dificuldade de atingir a maioria qualificada (37 votos, ou dois terços da Câmara) quando necessário (por exemplo, na revisão do Plano Diretor).

Por isso, os partidos que nacionalmente compõem o Centrão terão (como sempre) peso decisivo também no Legislativo paulistano. Isso sem contar as negociações para 2022. São pelo menos 25 votos, somados os vereadores do DEM, Republicanos, MDB, PSD, Podemos, PL, PP, PSL, PSC e PTB.

Esse grupo pode crescer ou diminuir de acordo com os interesses em jogo, distribuição de cargos e verbas para emendas parlamentares, indicação de secretários e subprefeitos, garantia da sanção de projetos, entre outros agrados e privilégios que o Executivo pode oferecer para fidelizar apoio.

Há ainda os partidos que vão atuar de modo mais independente ou flutuante, como o Patriota (com três vereadores vinculados ao MBL), o Novo (com duas vereadoras), o PSB (também com dois vereadores) e o PV (com um), que podem se juntar ora ao governo, ora à oposição - ou reforçar o Centrão.

Além do posicionamento partidário, há vereadores que individualmente exercem maior liderança - seja pela experiência, seja por personalidade ou pela votação mais expressiva. Então é natural que alguns tenham maior destaque na hora de dialogar com o governo ou de compor a Mesa Diretora e as comissões permanentes da Câmara.

Como já dissemos aqui, o primeiro teste de forças se dará em dezembro, na aprovação do Orçamento da cidade para 2021 e na destinação das emendas. O próximo embate será no dia da posse, em 1º de janeiro, com a eleição do novo presidente da Casa, da mesa diretora e do corregedor.

Estamos de olho! Vamos seguir cobrando e fiscalizando qualquer um que se eleja. Não basta fazer discurso de campanha, agradar o paulistano na propaganda eleitoral e lacrar nas redes sociais. O verdadeiro desafio começa depois da eleição. Como governar bem a cidade e administrar seus múltiplos problemas com ética, responsabilidade, sensibilidade, justiça e eficiência?